domingo, 31 de maio de 2015

Brincar de Casinha

Sou especialista. Venho me aperfeiçoando ao longo dos anos. Como boa brincadeira só sei como começa, nunca como acaba e quando acaba começa-se de novo, por isso dá para brincar a vida inteira sem enjoar. O inusitado do fim é que é o encanto. Podemos construir infinitas casinhas, mas não abandoná-las. Elas não sobrevivem ao abandono.
Para quem quiser aprender posso dar algumas "dicas".
Logo de início aguce os sentidos e desligue a razão. Uma boa brincadeira de casinha não pode ter um "pra quê". Isso já iria estragar o inusitado.
Coloque ao alcance da visão só o que for significativo. Cada coisa tem que contar uma historinha. Evite espaços que sua vista não alcance. 
Que sons e silêncios não se conflitem, se completem. 
Para uma casinha de verdade são necessários cheiros vivos: café, bolo no forno, terra molhada e tantos outros.
Muito importante também é o macio de uma coberta e de uma conversa.
O paladar é a soma dos outros quatro.
A respeito de porões e sótãos cabe um aviso.
Porões normalmente desconsideram a visão e o olfato. Quando há luz é artificial, quando há cheiro é morto. A escuridão libera nossos medos e nos imobiliza. No escuro nem o medo tem cara, pode até ser um medo alheio.
Sótãos são depósitos de apelos que impedem o fluir da brincadeira. Ia dizer depósito de inutilidades, mas não é isso não. Ser inútil é essencial para brincar.
Gosto muito de escadas, mas há que se ter cuidado e saber usá-las.
Certa vez desci uma que me levou até um porão onde fiquei aprisionada muito tempo. Deu um bom trabalho para achar a saída. Estava quase me acostumando com ele. Esse é maior perigo.
Subi-las exageradamente também é perigoso; perdemos as referências. Bom mesmo são escadas para subir pulando degraus, escorregar no corrimão ou então desfilar por ela como princesa.
Uma casinha bem arrumada recebe visitas, mas só de convidados muito especiais.
Quem no lugar de versinhos recita teorias não é bem vindo.
Boa brincadeira a todos.

sábado, 9 de maio de 2015

Bambús e Coqueiros

Bambús aprenderam a falar com o vento do rio.
Coqueiros com o do mar.
Bambús sussurram.
Coqueiros farfalham.
Bambús se recolhem.
Coqueiros se exibem.
Bambús reverenciam.
Coqueiros se erguem.
Bambús choram.
Coqueiros gargalham.
Tenho dias de bambú
e outros de coqueiro.