domingo, 28 de junho de 2015

Desinspiração

Onde se escondeu minha inspiração?
Sempre esteve aí, tão à mão! 
Pergunto ao coração e ele responde
"Aqui não está não. Segue tudo em paz no batidão"
Mas que aflição!
Impossível qualquer produção
Nem com muita transpiração!
Procurar não é a solução
Só me resta ficar na aflição
Acabar com a paz do "batidão"
Na dor está a solução!

sábado, 27 de junho de 2015

Miudezas

Ah! vento, por que? Estava tão quieta, tão letárgica! Quase como um boi. Se tivesse cauda, estaria abanando para espantar qualquer eventual mosca ou só porque sempre fora assim a natureza dos bois. Só não atingira ainda o estado total de boi porque os olhos teimavam em procurar o horizonte, essa linha de encontro de azuis que me fascina. O do céu, quase denso, sem nuvens que lhe desse leveza. Pote de tinta derramado. O do mar, quase verde, quase cinza. E eu presa nessa linha limite. Gente querendo um momento de bicho, mas condenada ao estado de gente pelo simples fato de querer.
Aí vem você , vento, e rola aquele restinho de cigarro manchado de batom vermelho. Rola, rola e o deposita bem perto de meus pés.
Pronto. O que você queria ? Já vi.
Jogada de novo, sem, piedade,  na doída humanidade. Um soprinho me tira do infinito e o ínfimo, de repente, é muito maior, porque na guimba tem batom, no batom uma boca, na boca uma mulher, nela um coração e nele ....

"Ligeira" (Denominação para andarilho típica do interior paulista)

Caminheira, viageira, "ligeira"
Sem eira nem beira
Porque a vida não pesa
É só companheira.
Sem saco nas costas
Nem bagagem de mão
Só pensamento e chão
Pensamento cavalo baio
Pisa firme no chão
No trote, no galope
Acompanha o coração
Só o verso é de "pé quebrado"
O cavalo não.
Tropeira com seu cavalo
Já bateu muito chão
Porque a vida companheira
Também é boa estradeira
Não tem medo de poeira
Só quer seguir fagueira
Até que não possa mais não.

Gratidão

Em algum momento Lispector disse: escrevo para não enlouquecer.
Por que escrevemos, pintamos, esculpimos? Para encontrarmos respostas a questões pessoais e incômodas. A arte não é asséptica. Obra e artista ( ou obreiro?) dialogam sempre. 
Escrevo por uma questão genética. Tive avôs anarquistas e feministas. Sem saber, até porque suas breves vidas não lhes deu tempo para ver, foram as portas por onde escapei de uma castração que me aguardava escondida atrás de cada "manual para moças". Fugi de uma herança indesejada.
Um avô artista, outro artesão. Um sente as dores da alma e convive com elas. Outro usa as dores do corpo e as transforma em poder. Ambos em mim. Escrevo para transformar a dor em voz.
Obrigada a ambos e a outros que depois deles não me estenderam tapetes mas acreditaram em meus pés e em meus olhos.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Declaração de amor

Vivemos a era dos genéricos, dos medicamentos, louvados por uns, questionados por outro. A partir dos medicamentos chegamos ao genérico das emoções. Parece que são, mas serão?
As redes sociais são o genérico das amizades. "Tenho centenas de amigos ! "  Como isso é possível? Procurem outra palavra no vernáculo porque amigo não é isso não.
Os histéricos fãs clubes transformam o amor em algo coletivo e indiscriminado. Genérico.
O sexo também não escapou da avalanche. Alguns estilos musicais, uns nacionais outros importados, assolam esta e outras terras. Sugerem, estimulam, provocam uma sexualidade generalizada, sem destino. Genérica.
Não encontro em nenhum dicionário definições para esses fenômenos, porque amizade, amor, sexo são outra coisa. Exigem pessoalidade, individualidade, discriminação.
A máxima desses movimentos bem poderia ser o verso de uma música que já tem alguns anos: " Sou de todo mundo e todo mundo é meu também"
Agora chegamos ao genérico dos genéricos: o politicamente correto e excessivamente divulgado " Amor à humanidade" . Isso me parece a história do Saci que nos contavam na infância. A gente fingia que acreditava. Não cheguei, nem chegarei a esse nível de abstração. Não consigo por no mesmo saco violentadores e abnegados. O máximo que consigo, em nome de minha verdade, é dizer que abomino uns, entendo muitos, admiro outros e amo mesmo só alguns.
Então quando faço minha declaração de amor ao mar, faço com a mesma discriminação.
Não amo o mar dos tsunamis, nem os que se movem sobre areias pedregosas, nem os aprisionados em gargantas estreitas. Amo o mar da baía de Santos com seu horizonte despudoradamente escancarado, que, por ser mar tem em si a possibilidade do rugir do tsunami, mas que optou pelo marulhar, pelo acariciar, pelo conversar.
Certa vez um amigo me disse que conversar é fazer versos junto.
Esse é o mar que amo pessoal e intransferivelmente.
O mar que provoca a poesia até em crianças. Nas palavras de minha neta quado pequenina para se referir à espuma das ondas: " Vovó, as ondas têm florzinhas na cabeça."

domingo, 21 de junho de 2015

MALABARISMOS



Equilibrar o sorriso até um segundo antes dele virar máscara

Andar no arame da dor até um segundo antes dela virar amargura.




DIREITOS AUTORAIS

Frases moralizantes que de tão repetidas quase viram verdades. Autores desconhecidos perdidos na POEIRA DOS TEMPOS, USADOS E ABUSADOS por quem queira. Não cobram direitos mas também não se responsabilizam pelo dito. E entre O DITO E O NÃO DITO é que MORA O PERIGO.
Uma delas, CONSTRUIR O FUTURO deve ser parente de QUERER É PODER! Esta última desde Freud tem perdido status, embora alguns ainda a defendam com UNHAS E DENTES.
Quanto á primeira que tal confrontá-la com algumas da mesma espécie? O FUTURO A DEUS PERTENCE ou ainda O HOMEM PÕE E DEUS DISPÕE. 
Escolha a que mais combina com você e aguente seu analista caso ele também tenha lá suas preferências. 
Quanto a mim, agora que meu futuro é bem mais curto do que no tempo em que acreditava em frases moralizantes e que adquiri uma certa humildade, só me arrogo o direito autoral do meu passado. Direito que cobra mais do que paga. A VIDA É UM SEGUNDO ou NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA SE ACABE? Só tome cuidado para não inverter a ordem dessa última.
Fico com o presente e caminho cuidadosamente tentando evitar os plágios, ser o mais verdadeira possível e percorrer sem pressa meu CAMINHO DAS PEDRAS. Ih!!!!