segunda-feira, 22 de junho de 2015

Declaração de amor

Vivemos a era dos genéricos, dos medicamentos, louvados por uns, questionados por outro. A partir dos medicamentos chegamos ao genérico das emoções. Parece que são, mas serão?
As redes sociais são o genérico das amizades. "Tenho centenas de amigos ! "  Como isso é possível? Procurem outra palavra no vernáculo porque amigo não é isso não.
Os histéricos fãs clubes transformam o amor em algo coletivo e indiscriminado. Genérico.
O sexo também não escapou da avalanche. Alguns estilos musicais, uns nacionais outros importados, assolam esta e outras terras. Sugerem, estimulam, provocam uma sexualidade generalizada, sem destino. Genérica.
Não encontro em nenhum dicionário definições para esses fenômenos, porque amizade, amor, sexo são outra coisa. Exigem pessoalidade, individualidade, discriminação.
A máxima desses movimentos bem poderia ser o verso de uma música que já tem alguns anos: " Sou de todo mundo e todo mundo é meu também"
Agora chegamos ao genérico dos genéricos: o politicamente correto e excessivamente divulgado " Amor à humanidade" . Isso me parece a história do Saci que nos contavam na infância. A gente fingia que acreditava. Não cheguei, nem chegarei a esse nível de abstração. Não consigo por no mesmo saco violentadores e abnegados. O máximo que consigo, em nome de minha verdade, é dizer que abomino uns, entendo muitos, admiro outros e amo mesmo só alguns.
Então quando faço minha declaração de amor ao mar, faço com a mesma discriminação.
Não amo o mar dos tsunamis, nem os que se movem sobre areias pedregosas, nem os aprisionados em gargantas estreitas. Amo o mar da baía de Santos com seu horizonte despudoradamente escancarado, que, por ser mar tem em si a possibilidade do rugir do tsunami, mas que optou pelo marulhar, pelo acariciar, pelo conversar.
Certa vez um amigo me disse que conversar é fazer versos junto.
Esse é o mar que amo pessoal e intransferivelmente.
O mar que provoca a poesia até em crianças. Nas palavras de minha neta quado pequenina para se referir à espuma das ondas: " Vovó, as ondas têm florzinhas na cabeça."

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