O Pai: "Não sai da mesa enquanto não terminar"
A Mãe: "Vamos, querida, falta tão pouquinho!"
Nem ameaças, nem argumentos, nada surtia efeito. Os dentes trancados. O pai se enfurecendo e a mãe se afligindo. Ela havia novamente estragado o cenário. Ninguém nunca se lembrou de perguntar à menina qual a causa da recusa. Dar voz a uma criança não estava no script. Teria sido tão simples! Não comia a última porção porque queria conservar o sabor gostoso da comida quentinha, devorada com apetite e não aquela sobra já fria.
Cresceu forte, apesar de nunca ter comido o restinho. Foi ter sua própria mesa bem posta onde os comensais não eram obrigados a "limpar o prato"! Tinha sua mesa, sua sala, sua copa, sua cozinha. Nessa cozinha restos e sobras são proibidos. Eles são seres hermafroditas que se reproduzem "ad eternum". Têem um poder maléfico de tirar o gosto do novo, do vivo, do quente.
Da mesm forma que cozinha, vive e quer a vida enquanto ela estiver saborosa e quente, quer devorá-la com apetite. Vai trancar os dentes para vida requentada, para restinhos.