domingo, 31 de julho de 2016

Meus botões

" Ninguém manda no meu 'penso'!" Tão pequena que nem sabia a palavra pensamento. Rota de fuga de um mundo, por vezes, desagradável. Foi assim que comecei a conversar com meus botões e desenvolvi a capacidade de habitar concomitantemente dois mundos, o meu e o dos outros. Por vezes o dos outros, por ser muito ruidoso, tenta invadir o meu. Distrações podem ser fatais, como na música da Maysa:"meu mundo caiu e me fez ficar assim..." É, caiu porque o dos outros invadiu o seu! Respeito às fronteiras! 
Só meus botões sabem que meu mundo não tem tempo nem espaço. Não tenho idade nem preciso de passaporte. Com eles estive em bares na esquina da "Ipiranga com a Avenida São Jõao" e logo depois em "Saigon". Com eles piso na areia que é só minha e converso com um mar que fala a minha língua. O mar também entende meus botões. 
Meus queridos companheiros, cúmplices de estrepolias, amigos para todas as horas, seguiremos juntos. 

sábado, 2 de julho de 2016

O orto dos mitos

É no ventre de nossas inseguranças que gestamos os mitos. Bem alimentados teriam a missão de nos salvar de nossas incompletudes,  medos, fragilidades, incompentências. Tudo o que faz parte desse pobre ser humano, que além de pobre é inconformado com sua condição. Criamos mitos diversos, com funções bem definidas, mas algo devem ter em comum: todos devem remeter a uma marca de reconhecido valor. Reconhecido por outros criadores de mitos! A bolsa, o carro, o bairro, o intelectual, a universidade, a religião... Seu valor é avaliado pelo desejo dos outros. Nos angustiamos até fazer parte desse "grupo seleto" , mas, desavisados, damos à luz os cavaleiros do apocalípse. Os mitos nascem fortes, poderosos, alimentados pelo medo do qual deveriam nos salvar e, sem nos darmos conta, estamos mais fracos e dependentes. O orto dos mitos nos aprisiona em seu campo magnético.  Pequeno grão de areia gravitando em sua órbita. Para os que tiverem coragem de abrir mão da arrogância dos mitômanos existe a possibilidade da humildade dos que reconhecem seus  defeitos, e pelo caminho da iconoclastia, chegam à liberdade.