segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Branca de alma preta

Da ascendência europeia herdei uma loirice e uns olhos claros, mas no pacote veio um manual de instruções. Como andar, como sentar, o que sentir, no que crer, e qualquer coisa fora disso, desprezar. Até meu destino após a morte já estava determinado: virar pó!
Em algum momento, não sei precisar quando, e também não foi nenhuma explosão de consciência, comecei a perceber que além de minhas “verdades” existiam outras e que afinal sempre estivera olhando o mundo através de uma janela fechada.
O primeiro movimento expontâneo foi abrir a janela e sentir outros cheiros, outras temperaturas, outros sons.
Descubro então o meu lado preto. Deixei de ser monocromática. Zumbi lutou para não se perder de si mesmo, eu lutaria para encontrar o meu.
Transformei meu manual de instruções numa revistinha ilustrada colorida.
Andar como quem dança.
Sentar para que o colo seja ninho.
Sentir que o tamborim me emociona mais do que o piano.
Crer no bem e no mal onde quer que ele se encontre e depois de morta virar areia da praia. Sou alérgica a pó!


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