Em um de seus apartamentos, varanda aberta para o mar, meus sonhos e fantasias juvenis se fizeram locatários.
Nunca deixei de visitá-los nesses últimos 50 anos. Surpreendia-me ao ver que o tempo que se alimentou de minhas carnes não lhes marcava as faces.
Permaneciam jovens, inquietos, sorridentes.
Vai que um dia deparo-me com placa: "Vende-se".
Se as carnes firmes tinham sumido, a conta bancária até que estava vigorosa.
Ia comprar o apartamento.
Dia marcado com a corretora. Ansiosa, chego antes do horário. Olho novamente aquelas curvas doces, pela última vez, pelo lado de fora.
Um aperto no peito me avisa do perigo. Vou entrar por uma porta e meus sonhos e fantasias sairiam por outra. Desalojados, despejados, não sobreviveriam ao peso de minha realidade. Magoados, jamais me dariam seu novo endereço.
Rapidamente me afasto do lugar marcado com a corretora que nunca pode entender aquela mudança.
Pacificada, continuo meu passeio com os olhos encharcados das curvas sinuosas e carnudas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário