domingo, 23 de agosto de 2015

Saltos

Era uma escada linda. Tendo atravessado muitos mares, o mármore encontrara seu destino naquelas curvas suaves e amplas. A bem da verdade não era um destino tão glorioso quanto o de seus semelhantes que terminaram nas mãos de um Michelângelo ou um Bernini. Tornara- se só uma escada do lado de cá do Atlântico. Estava muito acostumada a acolher os saltos displicentes da jovem  que achava que subir degraus um a um era desperdício de tempo. A vida era pouca para tanto que precisava experimentar!
Naquele dia a escada recebera um tratamento especial. Estava adornada por uma profusão exagerada de flores. Como sempre a menina sobe risonha aos saltos. 
Pouco depois assoma em seu ponto mais alto, a jovem transformada em noiva suntuosa.
Há uma sutil discordância entre a garota e suas vestes, mas ela, o rosto agora serio, as empunha soberbamente como lhe haviam ensinado a fazer.
Um primeiro passo iniciando a longa descida. O salto do sapatinho delicado enrosca- se em um dos incontáveis saiotes que usava para avolumar- lhe as formas quase infantís.
Um salto para o vazio. 
Lentamente o sangue tinge as rendas agora tão inúteis.
Nenhuma experiência mais.

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