domingo, 20 de setembro de 2015

Nós ou Eles?

Ela. Passinhos miúdos de pés grotescos. Que extremo mau gosto colocou aquele vermelho naqueles dedos magros, nervosos? Pernas curtas que mal sustentam o corpo sem graça. Seu gingado está no pescoço, não nos quadrís.
No entanto, naquele momento, desfila lânguidamente suas mazelas. Expõe-se, exibe-se. Sente-se linda, palatável ( para não usar o termo popular : gostosa!). Átimos de uma felicidade desconhecida.
Ele. Olhar cúpido, voraz, guloso. Seu grande trunfo, sua arma infalível! No mais é vulgar, mal ajambrado. Tão desprovido que raramente consegue quem lhe acolha os olhares, contenta-se com sobras, mas ele deseja, como deseja! Imóvel, estático. Seduzido pelo prazer de seduzir.
Ela quer um tempo longo, seu prazer não demanda um encontro. Não precisa de mais nada além daquele olhar.
Ele não; urge que a toque, que a possua, que a devore. Precisa satisfazer esse desejo mesmo sabendo que o tormento de outro nascerá!
Em alta velocidade, um carro faz a curva. Um leve movimento da mão do motorista salva-lhes a vida mas não o encanto. O gato vadío salta para o muro próximo e a pomba assustada alça um arremedo de vôo.

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